terça-feira, 2 de junho de 2009

O menino de rua-Elizabeth Abreu


Um dia vi um menino de rua e me deu vontade de escrever sobre ele e saiu este conto. Espero que gostem. Foi a primeira vez que escrevi.

O menino de rua

Toda vez que eu passava com meu pai indo e vindo da minha escola, eu via um menino de rua fazendo malabarismo com bolas no sinal. Tinha gente, que fechava os vidros de medo de que ele fosse um assaltante, mas meu pai sempre dava um real para ele. Eu também dava às vezes até o dinheiro da minha merenda, pois ficava com pena daquele menino tão magrinho e mal vestido. Passaram - se alguns meses e sempre ele estava lá, pois ficava todo o dia na rua.
Um dia minha mãe me levou ao dentista na praça onde o menino ficava e eu procurei por ele, pois eu já tinha ficado acostumado a vê-lo todos os dias. Quando eu o encontrei na praça, estava sentado comendo uma comida numa quentinha e parecia ter tanta fome, o pobre coitado, que nem engolia direito o que colocava na boca. Eu contei à minha mãe sobre ele e ela ficou com pena também e me disse que às vezes eles até têm mãe, mas tem mães que espancam os filhos por nada e eles têm medo de apanhar e fogem de casa. Ele estava tão sujo e mal vestido que deu pena. Pensei na minha roupa sempre de grife, e nos meus sapatos também, muito caros e me senti envergonhado, por sentir que o pobre menino, nem tinha sapato. E eu era tão chato com minha mãe, pois quando comprava sapatos para mim, eu só queria os da moda e de marca famosas. Fiquei triste e pedi para minha mãe dar cinco reais para ele. Ela disse que ele ia comprar cola para cheirar e não quis dar, aí eu dei um real do meu bolso que tinha tirado do cofrinho. Eu perguntei o nome dele. Era Djavan. Achei engraçado, nome de cantor.
Fui embora, pensando no Djavan. Agora tinha um nome para eu o chamar. Fiquei feliz por isso. No dia seguinte fui para a aula animado, louco para ver o Djavan. Lá estava ele, mas na volta não vi o meu amigo. E passaram muitos dias e eu nunca mais vi o menino. Um dia eu fui de novo ao dentista e passei na praça e perguntei ao pipoqueiro onde estava o Djavan. Ele disse que ele estava doente no hospital e minha mãe prometeu me levar lá para visitá-lo. No dia seguinte fomos ao hospital e encontramos o quarto dele. Ele estava num quarto com muitos doentes e minha mãe perguntou ao médico o que ele tinha. Foi atropelado por um motorista que tinha bebido muito e quase matou o menino. Minha mãe perguntou se ele tinha família, quantos anos tinha, e o médico disse que até aquele dia, ninguém tinha aparecido e que ele tinha oito anos e morava na rua. Eu fiquei muito triste e quando cheguei perto dele, a cabeça estava raspada, o cabelo ruivo sumiu todo e tinha um corte na cabeça com pontos e o olho estava preto, parecia que tinha levado um soco. O braço estava engessado e a perna também. Ele sorriu quando me viu e eu cheguei perto e sorri também para ele, e conversamos um pouco. Eu perguntei se ele queria que eu voltasse lá e ele falou que sim. Ficamos um pouco lá e fomos embora, muito tristes, por saber que ele não tinha família, mas minha mãe prometeu voltar lá comigo, pois o médico disse que ele ia ficar lá uns dois meses ainda, e que os dias de visita eram quartas e domingos. Voltamos nos dias de visita. Eu e minha mãe ficamos gostando muito dele, porque era bonzinho e educado. Minha mãe levava doces, comidas, para ele e ele adorava. Eu levava o dominó, e baralho, e a gente jogava sempre um pouco.
Depois de dois meses, o Djavan já estava curado, e o médico avisou minha mãe que ele ia voltar para a rua, porque no hospital ele não podia ficar. Minha mãe ficou preocupada e falou com meu pai sobre isto, e meu pai concordou em levar o Djavan para a minha casa. Fomos buscá-lo no dia em que o médico mandou e fomos para casa. Quando chegamos em casa, o Djavan ficou muito feliz porque tinha um quarto só para ele e conheceu o resto da família que era bem grande. Logo, minha mãe procurou um juiz para adotar o Djavan e ficou tudo certo.
Hoje, o Djavan é meu irmão e sempre vai para a escola comigo. E quando a gente passa na praça onde ele morava, ele fica olhando triste pela janela lembrando do passado, mas logo olha para mim, sorri, e fica contente porque agora tem uma família que gosta muito dele e com quem ele é muito feliz.

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