sábado, 27 de junho de 2009

Filhos - Vinícius de Moraes


Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

O Pastor Amoroso- Fernando Pessoa


Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo...
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza...
Tu mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires, vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as coisas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eu Sei Que Vou Te Amar -Vinicius de Moraes

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida.

Soneto do Amor Total - Vinicius de Moraes

Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude.

Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Soneto da Fidelidade - Vinícius de Morais

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meus pensamentos
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

domingo, 7 de junho de 2009

O auto Retrato



No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!

Confissão -Mário Quintana


Que esta minha paz e este meu amado silêncio,
não iludam a ninguém.
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta,
nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios.
Acho-me relativamente feliz,
porque nada de exterior me acontece...
Mas, em mim, na minha alma,
pressinto que vou ter um terremoto!

Remorso - Mário Quintana

Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.

A Discrição - Mario Quintana

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...

terça-feira, 2 de junho de 2009

A árvore que sonhava-Elizabeth Abreu


À Clarice, Sofia e Giovanna.
Resolvi escrever uma histórinha para minhas sobrinhas e acabou nesta linda história que me emociona ao ler. Espero que gostem também.
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A árvore que sonhava
Era uma vez, uma árvore que ficava no meio de uma praça em uma cidade muito bonita.
Era um ipê roxo. E na frente desta praça, morava uma menina de seis anos, chamada Lua.
A menina cuidou desta árvore desde pequena, pois mudou para esta casa, quando tinha apenas um ano. A árvore nesta época tinha acabado de ser plantada. Lua e seus pais participaram do crescimento da árvore, molhando-a, cuidando dela sempre com muito carinho. A mãe de Lua era naturalista e protegia a natureza. E seu pai sempre ensinou Lua a respeitar as árvores, os animais, e as pessoas também.
Lua sempre que acordava, corria para a janela para apreciar a árvore. Sempre ficava de olho nos galhos da árvore, para ver como ela estava, se estava florindo, cada mudança na árvore era observada com muita atenção pela menina.
A menina gostava tanto da árvore, que colocou um nome nela. Chamou-a de Natureza.
Lua acordava de manhã e dizia para a mãe:
- Vou ver como a Natureza está. Então, saia correndo para a praça, para ver sua amiguinha-árvore.
A menina prestava atenção em tudo na sua amiga-árvore. Se haviam flores novas, se haviam folhas secando, algum machucado novo no tronco dela, e sempre foi muito cuidadosa com a árvore, que estava sempre, com seu tronco machucado, pois, a maioria das pessoas na cidade não respeitavam as plantas. Tinham cortes em seu tronco, galhos quebrados, pessoas escreviam seus nomes no tronco da Natureza e não se importavam com ela. Lua era uma da poucas pessoas que gostavam de natureza. Por isso Lua gostava tanto da árvore, e tentava protegê-la sempre das pessoas más.
Lua tinha mania de conversar com seus brinquedos, e falava também com Natureza. Contava tudo para ela. O que aconteceu no colégio, o que aconteceu quando foi dormir, se sonhou, contava seus sonhos e Natureza ouvia a menina com muita atenção.
Natureza não sonhava dormindo. Sonhava acordada. Sempre falava com Lua, que sonhava em ser uma borboleta, e sair voando, pelo céu, ou em ser um peixe para sair nadando pelo mar, ou uma menina como Lua para poder ter pais tão bons como ela. E a árvore nunca ficava triste quando falava de seus sonhos. Mas, um dia Lua estava contando para a árvore, que sonhou que estava voando num campo lindo cheio de flores. E voava e voava e voando pegava flores com a mão e continuava voando e cheirava as flores lindas. Natureza gostou muito deste sonho, e pediu para que a menina repetisse várias vezes à história, para sentir toda a emoção de voar num campo florido. Natureza então, disse que sonhava um dia viver num campo destes floridos, em paz sem barulho de carros, nem buzinas, nem poluição. Que estava se sentido só, pois não havia mais árvores ali. E a menina disse que era impossível ela sair dali, pois era muito grande e tinha longas raízes. Que se a tirassem de lá, ela morreria. Natureza ficou muito triste, pois queria ser livre para respirar ar puro, e saudável. A menina ficou arrependida de ter contado aquele sonho, pois deixou sua amiga árvore muito deprimida. Passaram-se dias e a árvore ficou muito triste, nem queria mais conversar com Lua, e a menina não sabia o que fazer para animar a árvore.
A menina fazia de tudo, convidava todas as crianças da vizinhança para conversar com a Natureza, levaram-lhe presentes fizeram festas na praça, mas nada, a árvore estava muito desanimada. Lua perguntou à sua mãe qual era a diferença entre uma praça e um campo. A mãe explicou que no campo havia muitas árvores grandes, grama e muita vegetação e o ar era mais puro que o da praça.
Então Lua teve uma idéia. Que tal fazer um parque na praça, assim, Natureza teria mais árvores perto dela e o ar melhoraria na praça, e talvez ela ficasse feliz.
Lua contou sua idéia à Natureza, mas esta não ficou muito animada, não acreditava que pudessem fazer este sonho se realizar.
A mãe de Lua, com os vizinhos foram falar com o prefeito da cidade e pediram um parque no lugar da praça. E o prefeito deixou que fizessem. Cada vizinho plantou uma árvore em volta da Natureza e na praça toda, para que ela ficasse sempre acompanhada de suas amiguinhas-árvores.
Lua pegou um galhinho da Natureza, e explicou para ela que ia fazer nascer um brotinho de seu galho e que seria um filhinho para ela cuidar. Natureza começou a ficar empolgada, pois ia ser mamãe e cuidar de seu filhinho. Lua pediu ajuda ao seu pai e tratou de plantar o galhinho para que logo nascesse. Pegou um saco plástico, encheu de terra, colocou ali o galhinho e molhou um pouco. Deixou no seu jardim por uns dias até que apareceu no saquinho, um brotinho da muda bem verdinho, que era o sinal de que deu certo. Correu para mostrar para Natureza seu filhinho. Cavou um buraco em frente a ela e colocou ali o broto da árvore. Cobriu com terra em volta e deixou bem firme. Molhou a mudinha e colocou uma cerquinha em volta feita de bambus, e pediu para que Natureza cuidasse para que ninguém pisasse nele.
Natureza ficou muito feliz com a surpresa, passava o dia inteiro de olho na plantinha e mostrava orgulhosa a todos os pássaros que pousavam na sua árvore, seu filhinho.
Lua ficou muito feliz também, pois agora tinha muito trabalho. Teria que cuidar de muitas árvores, regar todos os dias, adubar e plantar flores também, para deixar o parque bem bonito.
Os pássaros de outras cidades correram para lá e ficaram morando no parque, pois lá era muito bonito e tinham árvores frutíferas de onde tirariam seus alimentos.
Natureza ficou tão feliz, que falava alto e não parava de falar.
Todos iam lá na praça saber o que ela falava tanto. E era sobre seu filhinho que nasceu. E todos ficaram muito felizes quando o conheceram. E as pessoas teriam um parque para fazer caminhadas, piqueniques e passear e um ar mais puro e saudável na cidade.
E Natureza, estava agora, protegida dentro do parque, com seu filhinho que ia crescer e ser seu companheiro para sempre. E foram felizes para sempre.

O menino de rua-Elizabeth Abreu


Um dia vi um menino de rua e me deu vontade de escrever sobre ele e saiu este conto. Espero que gostem. Foi a primeira vez que escrevi.

O menino de rua

Toda vez que eu passava com meu pai indo e vindo da minha escola, eu via um menino de rua fazendo malabarismo com bolas no sinal. Tinha gente, que fechava os vidros de medo de que ele fosse um assaltante, mas meu pai sempre dava um real para ele. Eu também dava às vezes até o dinheiro da minha merenda, pois ficava com pena daquele menino tão magrinho e mal vestido. Passaram - se alguns meses e sempre ele estava lá, pois ficava todo o dia na rua.
Um dia minha mãe me levou ao dentista na praça onde o menino ficava e eu procurei por ele, pois eu já tinha ficado acostumado a vê-lo todos os dias. Quando eu o encontrei na praça, estava sentado comendo uma comida numa quentinha e parecia ter tanta fome, o pobre coitado, que nem engolia direito o que colocava na boca. Eu contei à minha mãe sobre ele e ela ficou com pena também e me disse que às vezes eles até têm mãe, mas tem mães que espancam os filhos por nada e eles têm medo de apanhar e fogem de casa. Ele estava tão sujo e mal vestido que deu pena. Pensei na minha roupa sempre de grife, e nos meus sapatos também, muito caros e me senti envergonhado, por sentir que o pobre menino, nem tinha sapato. E eu era tão chato com minha mãe, pois quando comprava sapatos para mim, eu só queria os da moda e de marca famosas. Fiquei triste e pedi para minha mãe dar cinco reais para ele. Ela disse que ele ia comprar cola para cheirar e não quis dar, aí eu dei um real do meu bolso que tinha tirado do cofrinho. Eu perguntei o nome dele. Era Djavan. Achei engraçado, nome de cantor.
Fui embora, pensando no Djavan. Agora tinha um nome para eu o chamar. Fiquei feliz por isso. No dia seguinte fui para a aula animado, louco para ver o Djavan. Lá estava ele, mas na volta não vi o meu amigo. E passaram muitos dias e eu nunca mais vi o menino. Um dia eu fui de novo ao dentista e passei na praça e perguntei ao pipoqueiro onde estava o Djavan. Ele disse que ele estava doente no hospital e minha mãe prometeu me levar lá para visitá-lo. No dia seguinte fomos ao hospital e encontramos o quarto dele. Ele estava num quarto com muitos doentes e minha mãe perguntou ao médico o que ele tinha. Foi atropelado por um motorista que tinha bebido muito e quase matou o menino. Minha mãe perguntou se ele tinha família, quantos anos tinha, e o médico disse que até aquele dia, ninguém tinha aparecido e que ele tinha oito anos e morava na rua. Eu fiquei muito triste e quando cheguei perto dele, a cabeça estava raspada, o cabelo ruivo sumiu todo e tinha um corte na cabeça com pontos e o olho estava preto, parecia que tinha levado um soco. O braço estava engessado e a perna também. Ele sorriu quando me viu e eu cheguei perto e sorri também para ele, e conversamos um pouco. Eu perguntei se ele queria que eu voltasse lá e ele falou que sim. Ficamos um pouco lá e fomos embora, muito tristes, por saber que ele não tinha família, mas minha mãe prometeu voltar lá comigo, pois o médico disse que ele ia ficar lá uns dois meses ainda, e que os dias de visita eram quartas e domingos. Voltamos nos dias de visita. Eu e minha mãe ficamos gostando muito dele, porque era bonzinho e educado. Minha mãe levava doces, comidas, para ele e ele adorava. Eu levava o dominó, e baralho, e a gente jogava sempre um pouco.
Depois de dois meses, o Djavan já estava curado, e o médico avisou minha mãe que ele ia voltar para a rua, porque no hospital ele não podia ficar. Minha mãe ficou preocupada e falou com meu pai sobre isto, e meu pai concordou em levar o Djavan para a minha casa. Fomos buscá-lo no dia em que o médico mandou e fomos para casa. Quando chegamos em casa, o Djavan ficou muito feliz porque tinha um quarto só para ele e conheceu o resto da família que era bem grande. Logo, minha mãe procurou um juiz para adotar o Djavan e ficou tudo certo.
Hoje, o Djavan é meu irmão e sempre vai para a escola comigo. E quando a gente passa na praça onde ele morava, ele fica olhando triste pela janela lembrando do passado, mas logo olha para mim, sorri, e fica contente porque agora tem uma família que gosta muito dele e com quem ele é muito feliz.

No sé...no sé - Rosalia de Castro


NO SÉ...NO SÉ

Yo no sé lo que busco eternamente en la tierra, en el aire y en el cielo;

yo no sé lo que busco, pero es algo que perdí no sé cuando y que no encuentro,

aun cuando sueñe que invisible habita en todo cuanto toco y cuanto veo.
Felicidad, no he de volver a hallarte en la tierra, en el aire,
ni en el cielo, ¡aun cuando sé que existes...

y no eres un vano sueño.